domingo, 30 de junho de 2019

Passeio de domingo (452)


Entre a praia dos Salgados, de Albufeira, e a praia Grande, de Silves.









Estado do tempo


Em virtude da influência do antiblogone das outras atividades sobre as condições blogosféricas das teclas, registou-se, nos últimos dias, uma total ausência de queda de postais na Esquina. O domingo deverá trazer uma aberta, mas admite-se a possibilidade de manutenção da instabilidade do tempo, o que poderá eventualmente levar a uma situação de seca intermitente.

domingo, 23 de junho de 2019

Passeio de domingo (451)


Passeio com visita à Photo Ark de Joel Sartore, em exposição em Vilamoura. Depois seguiram-se os caminhos de sempre e a bicharada local.










sábado, 22 de junho de 2019

A que espera



A tristeza sentou-se à minha porta
mas eu não a alimentei.

Cão de guarda por cão de guarda
prefiro a alegria.

A ela entrego os meus dias
e o abraço daquele que vem de longe
para me dizer que o amor que foi ontem
ainda é hoje.


Lídia Jorge, O livro das tréguas, 2019.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Tlaloc


Tlaloc, deus da chuva, do trovão e dos relâmpagos, vivia desconsolado no seu paraíso, em razão das alterações climáticas. Nos últimos tempos, o sol tomara conta do universo. A temperatura subia sem cessar e os ares secavam sem apelo nem agravo. Tlaloc via os seus poderes à mingua e sabia – tinha-lho dito Chicomecoatl – que era preciso procurar a lua e oferecê-la o quanto antes a Ilmatecuhtli, a única deusa que poderia ajudá-lo a reverter a situação. A criadora de estrelas sentia a falta da lua que andava inexplicavelmente desaparecida dos céus e deixara de reger as marés que tanto influíam nos seus passeios à beira-mar. O desaparecimento da lua era um verdadeiro mistério e nem os deuses conseguiam perceber o que acontecera ao astro da noite. Entretanto, falava-se de um tal de Andrade, habitante de um bairro típico de Lisboa, uma cidade que atraía turistas do mundo inteiro e tinha sido eleita pelos entendidos como melhor destino de “city break”. Dizia-se que o Andrade tinha engolido a lua. A história era contada pelo Mário de Carvalho, prestigiado escritor português, que situava o caso no Beco das Sardinheiras. A ser verdade, Tlaloc não tinha alternativa a não ser viajar para Lisboa em demanda do dito beco e do aludido Andrade.
Consultados os calendários, apurou-se que hoje mesmo, 17 de junho 2019, deveria cumprir-se uma lua cheia. Tlaloc limpou cuidadosamente o tsurugi, entrou na sua garagem, escolheu a nuvem mais gorda e possante que ali tinha parqueada, instalou-se nela, abasteceu-se de alguma carga elétrica e saiu com destino ao Beco das Sardinheiras onde esperava digladiar-se com o Andrade para, finalmente, resgatar a lua.

domingo, 16 de junho de 2019

Passeio de domingo (450)


Este domingo não deu em passeio, mas só para isto não ficar em branco, colo aqui o pouco que o telemóvel apanhou nas noites do fim de semana, com o devido pedido de desculpas pela fraca qualidade da coisa.









quinta-feira, 13 de junho de 2019

Manhã


(...)

*
No meio-dia da praia o sol dá-me
Pupilas de água mãos de areia pura

*
(...)

Sophia de Mello Breyner Andresen

A bandeiras despregadas


Esta tarde usei o estendal da açoteia para pôr a roupa a secar. O vento estava forte e pareceu-me que tanto as toalhas como as camisolas ficariam agradadas pelo efeito balouço que isso lhes proporcionaria. Acho que acertei pois mal dei de costas ouvi-lhes alegre risota. A animação foi tal que quando regressei à varanda, pouco mais de meia hora depois, deparei-me com a sweatshirt esparramada no chão, com molas e tudo, ainda a retorcer-se com as cócegas do vento, mostrando cabalmente como se ri a bandeiras despregadas.


segunda-feira, 10 de junho de 2019

Caracóis e outras roscas


Na minha mesa come-se caracóis com pão torrado. Seguir-se-ão ovas de choco, que os donos do estabelecimento nomeiam de forma, digamos, mais popular, e que faz sorrir os clientes. O mais que se vê na vitrine e nas mesas são mariscos diversos. O espaço é pequeno, as mesas próximas, a observação do(s) outro(s) torna-se inevitável. Fixo-me nos dois casais que estão apenas a uma mesa de intervalo da minha. Quatro quinquagenários, provavelmente a meio caminho andado para o patamar seguinte. Em separado, não os imaginaria convivas, amigos ou familiares, tão diferentes aparentam as duplas. Os dois de cá não me chamariam a atenção, ele e ela de indumentária absolutamente comum, adereços ausentes, trivial simplicidade. Os dois de lá a contrastar com estes. É sobretudo nele que pousa o meu olhar. Nas mãos dele. Nos dedos dele. Apenas o polegar da mão direita não tem anel. Nove gordos e trabalhados anéis de aço enfeitam cada um dos nove dedos restantes. No pulso direito nove centímetros de pulseira, ou serão pulseiras, fazem concorrência ao trabalhado dos anéis. Arrisco-me a ficar com meio torcicolo por causa daqueles hipnóticos cachuchos. Nem reparo bem nas asas que o homem tem tatuadas na nuca, nem na argola que lhe enfeita a orelha. Pasmo com a destreza daqueles dedos cintados, inquieta-me a ideia dos sucos da sapateira que por ali se devem infiltrar, questiono-me sobre como lavará ele as mãos. Manterá os adereços? Retirará os anéis? E espaço no lavatório para tanto ânulo? E para secá-los? Sentada à sua frente, a mulher não tem anéis nos dedos. No braço esquerdo, aquele que da minha posição consigo ver, tem tatuado o rosto de Johnny Hallyday.


domingo, 9 de junho de 2019

Passeio de domingo (449)


Por Vilamoura.










Contra o vento


A manhã começou fresca, fortemente arejada pelo vento. Estacionei o carro à sombra de duas árvores de flores amarelas, mesmo à entrada de um bloco de apartamentos turísticos. Há ali quatro ou cinco lugares de estacionamento que nunca vejo ocupados. Os turistas têm lugar para os carros no lado de dentro dos portões e, do que percebo, não costumam ter visitas. Tomo a direção da estrada e sigo pela berma numa via vermelha partilhada por peões e ciclistas. Cruzo-me com uns, sou ultrapassada por outros. Todos aproveitam o começo de domingo para exercitar, caminhar, correr, pedalar, transpirar ou apenas passear o cão. Eu caminho e paro aqui e ali, a cada folha que mexe, a cada ave que pousa, dou que fazer ao zoom da máquina. Decido virar à esquerda tomando um caminho de terra batida que ladeia o golfe, afastando-me dos enérgicos passeantes. Mas, também por esse caminho, vem lá uma mulher correndo. Corre solitária e sorridente. Dirige-se a mim de rosto alegre e aberto, com um sotaque que traz do outro lado do Atlântico. «Não tem muito pássaro, não, com esse vento». Respondo-lhe com um sorriso e prossigo na esperança do seu engano. Alguns hei de encontrar, mesmo que contra o vento.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Ouvindo o pássaro



Às vezes, um pássaro parece cantar
para si próprio. Está na árvore, quando
o dia nasce, e a luz encontra-o
no meio da sombra. «Que manhã é esta»,
pensa, «em que o sol vem ter comigo
como se não houvesse mais ninguém
para o receber?» E saúda-o
com o seu canto, sem saber que
alguém o ouve, por trás dos arbustos,
e recolhe o que ele diz
para o dizer ao mundo.


Nuno Júdice, A pura inscrição do amor, Publicações Dom Quixote, 2018

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Chamada


A sala de espera vai-se enchendo aos poucos. Cresce o burburinho das conversas. Ainda assim, o dingue-dongue anunciador da chamada sobrepõe-se precedendo a voz do médico. Américo Santos, sala 3. Maria Almerinda Cavaco, gabinete 5. O nome do doente é anunciado uma vez, salvo no caso do médico que chama para o gabinete1-sala 2. Esse repete sempre a chamada. Celeste Cabrita, gabinete 1- sala 2; Celeste Cabrita, gabinete 1-sala2.
Tudo corre com tranquilidade, em tom aeroportuário.
Dingue-dongue… Jorgina Pacheco, gabinete 1-sala 2; Jorgina Pacheco, gabinete 1 – sala 2.
Na sala de espera prosseguem algumas conversas. No corredor contíguo também. Dos gabinetes médicos sucedem-se as chamadas. Até que volta a Jorgina à baila. O médico que chama desiste do calmo tom aeroportuário. JORGINA PACHECO, GABINETE 1 – SALA 2!
Na sala de espera, a irritação do médico assume grau de comicidade e todos se riem. Da Jorgina Pacheco é que ninguém sabe.




domingo, 2 de junho de 2019

Passeio de domingo (448)


A caminho da feira do livro de Lisboa, pela pior hora possível para fotos e até para a pessoa circulante que quase morreu de calor. Resolvi filtrar as imagens do telefone esperto para, pelo menos, fazer de conta que são postais antigos.