segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Setembro


Estão quatro pombas a descansar no cabo da eletricidade. É um cabo esticado entre dois candeeiros públicos, um em frente de casa, lado sul, outro nas traseiras, noroeste. Cada um na sua rua. São as duas ruas perpendiculares que delimitam o meu espaço e que observo enquanto me debruço sobre o muro de vedação. O vento agita as árvores e faz balancear o cabo. Estremecem levemente as penas das pombas que se aguentam em síncrono equilíbrio. Reparo no ramo quebrado de uma alfarrobeira, nos estilhaços de um prato que alguém atirou para a berma da estrada, nos destroços que ficaram junto ao contentor do lixo. O céu conseguiu ficar azul, contrariando a intenção do dia quando amanheceu, mas nem assim dissipou a melancolia que se agarrou aos troncos das árvores, que atapetou o asfalto, que se entranhou nos telhados. Volto a olhar para as pombas. Voaram e nem dei por isso. Recolho-me ao telheiro com o meu livro de capa amarela, a música de fundo a cargo dos espanta-espíritos.

18 comentários:

  1. belo, o teu setembro, Luísa.
    é o meu mês. :)

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  2. Bonito texto...
    Que seja também um bonito Setembro

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  3. Boa tarde. Fantástico e divertido texto. Adorei.

    Hoje... Quimera sem retorno.

    Bjos
    Votos de uma óptima Segunda-Feira

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  4. Uma cena algo melancólica e, de certo modo, nesse virar da paisagem, antevejo o prazer de te recolheres ao telheiro.
    Já reparaste que ainda há poucos dias. era um espaço que só poderias olhar, de dentro da suave e fresca penumbra da tua cozinha, Luísa? Há sempre uma face boa em tudo...:)
    Boa semana.
    Beijinhos.

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    1. Olha que não, Janita. Este meu telheiro (fora a questão dos pássaros que lá fazem os ninhos e me sujam a rua toda), tem sido bastante usado verão fora. :)

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    2. Luísa. comentei a pensar naquele teu postal de 04 de Agosto com o título "Calma" - calor- para quem não souber alentejanês e dizias que não te aguentavas lá no alpendre. Ias bebendo mais um copo de água, folheavas umas páginas do livro, enquanto os pardais se lamentavam do calor infernal, piando sob a sombra do alpendre...Não te lembras? :))

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    3. Lembro, pois. Também para o meu telheiro há dias e dias, Janita! :) Nessa tarde, pela calma, não se aguentava o calor. Mas nos finais de dia, muitas sardinhadas e outras funções tem acolhido. :))

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  5. Minha querida Luisamiga

    Belíssimo texto, dos mais lindos que tens aqui postado, dos mais bonitos que tenho lido, um começo do mês dos meus anos (e já estou quase nos 77..., ai a PDI) magnífico. Manda mais que me enches as medidas.

    Muitos bjs e qjs do casal Ferreira

    AVISO

    Já se encontra na Nossa Travessa o episódio n.º 12 da saga É DIFÍCIL VIVER COM UM IRMÃO MONGOLÓIDE cujo título é Entre dois dias: um louco amor e um suicídio. Tenho de avisar que ele contem cenas eventualmente chocantes por serem eróticas que podem ferir pessoas púdicas ou mesmo falsas púdicas.

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    1. Que seja então um excelente setembro para si Henrique!

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  6. Um bom texto, fiel depositário de Setembro. E que assim seja, com livros, pombas e muita paz.

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    1. bea, são férias em setembro e livros para ir lendo... :)

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  7. É o Outono que se anuncia.
    Uma estação do ano que em Macau até é muito agradável.

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    1. Pedro, este início de setembro parece estar a chamar o outono, sim, mas quero acreditar que ainda vou senti-lo cheio de verão.
      :)

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  8. Vem aí o Outono... Olhemos a sua beleza e uma certa melancolia que ele nos traz. Lindo texto :)

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    1. Tenho tido manhãs cinzentas, GM. Vale que o sol ganha as tardes. :)

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