quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Um caminho

Havia um caminho estreito, pouco mais que uma vereda. Ainda lá está, mas a falta de uso e o tempo favoreceram as moitas. É delas, agora, o caminho. E das aves que lá se escondem. Num ou noutro ponto, consigo cruzá-lo. Pulo sobre os valados já meio desfeitos, tento esquivar-me aos espinhos que também ali reinam e atravesso de um para outro terreno. Era o caminho das professoras. Foi também o meu nos poucos e longínquos meses em que frequentei a escola da aldeia. Recordo dias de tempestade em que o percorria abrigada num impermeável azul turquesa. Não há forma de usá-lo hoje em dia. Fechou-se o caminho e os passos que o cruzaram são memória ténue. Totalmente irrecuperáveis. 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Natalino

Natalino, que, como facilmente se deduz, deve o nome ao dia 25 de dezembro, em que nasceu, e à madrinha Maria da Conceição, ficou para sempre marcado com o estigma dos presentes de Natal. Tanto assim, que não há vez nenhuma em que se porte menos bem que não esteja logo alguém a atirar-lhe: sempre me saíste uma boa prenda!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

domingo, 17 de dezembro de 2017

Passeio de domingo (388)



Fui ver o mar, aos Olhos de Água e, em tarde curta, pude ver também o sol mergulhando no horizonte.










quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A birra

A criança, uma menina, começa uma birra. Está ao colo do pai, na fila para as caixas do supermercado. Grita e estica-se em direção à mãe, que, logo atrás, carrega nos braços as compras. Os progenitores sorriem enquanto a pequena insiste na gritaria e consegue alcançar a ponta do rabo de cavalo da mãe, uma cigana de longos cabelos negros e farto peito a sobrar no decote.  Sente-se a força da miúda puxando os cabelos da mãe com toda a raiva que uma criança de dois anos consegue ter. O pai vem em auxílio da mulher e solta-lhe os cabelos das mãos da pequena que grita cada vez mais. Riem-se os dois enternecidos e, sem uma reprimenda sequer, seguem para a caixa 26, entretanto anunciada para eles no altifalante.

sábado, 2 de dezembro de 2017

O grilo

Calou-se o grilo e eu nem dei por isso. Lembrei-me agora dele, assim sem mais. Ouvia-o, escondido no canteiro, sempre que passava com o meu alguidar de roupa por estender. Não lhe achava muita graça ao canto. Um criiiiiii criiiiiiii meio rouco, arrastado, sempre no mesmo tom, tristonho. Encontrava-se só, acredito, e sentia, por certo, que o tempo já não estava para ele. Não sei se morreu ou se hibernou. Sem roupa para o estendal, abro, ainda assim a porta e espreito para dentro da noite a confirmar a ausência.  Junto ao canteiro, apenas o frio, moldado a oito graus, e o brilho dos astros ao alto. Recolho-me a casa. Cá dentro cheira a amêndoas torradas e a histórias por ler.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017