O que tenho para contar deste caminho? Apenas que hoje
cheira à chuva que caiu durante dia e que ainda não secou nas poças das bermas;
e que o verdete das paredes velhas está mais vívido; e que elas clamam por cal para
rejuvenescer; e que as iniciais dos donos dos prédios estão pintadas de forma
tosca nos marcos que os assinalam; e que os cães ladram, como sempre, à minha
passagem; e que, nos quintais, as trombeteiras estão de novo em flor exalando o
seu forte perfume; e que os pampilhos já estão a fechar-se para a noite que
chega; e que há um grilo ruidoso ali à frente; e que soa o alarme da cancela na
passagem de nível; e que ao longe o anúncio luminosos do café muda de cor de
forma intermitente; e que já se ouve o estranho chamamento do noitibó; e que os
candeeiros da rua se acendem lentamente; e que no céu de chumbo se desenha uma
invulgar nuvem castanha; e que me surpreendo com o som da casca do caracol que
esmago sem me dar conta; e que a mulher que se cruza comigo me diz boa noite; e
que alguns carros passam velozes no asfalto; e que sopra um vento leve; e que
já me escorrem pequenas gotas de suor pelo peito; e que regresso finalmente a
casa; e que, na verdade, nada tenho para contar.
Mas contou muita coisa.
ResponderEliminarBfds
contaste tanto...
ResponderEliminarImagina se tivesses algo para contar! Excelente relato sobre as coisas que fazem a vida fazer sentido e que muitas vezes não se dá importância.
ResponderEliminarFiquei a pensar no que será "pampilho" penso que te referes a uma planta, ou flor, mas só conheço o tradicional doce de Santarém com o mesmo nome.
Beijinho Luísa, tem um bom fim de semana.
Luísa, a normalidade dos dias feita rotina também é boa. :)
ResponderEliminartudo fala! até o "estranho chamamento do noitibó"...
ResponderEliminarimportante é saber ler...
(ou escutar)
Bolas, para quem nada tem que contar, contou muita coisa:)
ResponderEliminarMuito bom....e não é que visionei tudo como se fossem as bonitas fotografias que a luisa costuma partilhar :)
ResponderEliminarSem ter nada para contar, contou-nos muito...
ResponderEliminarQue bem, Luisa!
ResponderEliminarAdoro a tua escrita é muito directa e rápida, não te esqueceste de nada e lá fui dando passos como se estivesse a caminhar ao teu lado.
Bijinhos
ResponderEliminarum passeio muito presente Luísa!
bom fim de semana
Angela
Uma bela passagem para a noite, luisa... daquelas que nenhuma fotografia conseguiria transmitir.
ResponderEliminarA mim também me cheira a chuva, mas só porque está a cair tanto que já quase me chega ao nariz!
ResponderEliminarQuem anda com os sentidos apurados, tem sempre algo para contar...
ResponderEliminarLuisa, por aqui onde raramente chove, hoje tem chovido o suficiente para deixar poças nos caminhos mas não chega para formar regatos. Mesmo sem fotos contaste coisas que nos encantaram. Tem um bom domingo que o sábado está a acabar, com chuva ou sem ela.
ResponderEliminar~~~
ResponderEliminarUm certo desencanto pelo ambiente molhado, não atrapalhou
a prosa simpática dos sentires simples do fim do dia.
Não choveu na altura própria...
Bom domingo, Luisa.
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Bom dia, Luisa.
ResponderEliminarQuando não se tem nada para contar conta-se tanto =)
bj amg
Que fôlego, Luísa, para contar tudo de sopetão. Deduzo que andava a caminhar, não?
ResponderEliminarUma boa semana :)
Há sempre coisas para contar, como bem o provas... :)
ResponderEliminarQue grande quadro para quem não tem nada para contar.
ResponderEliminarE a chuva continua trazendo mais verdete e o som propagar-se com mais clareza. Eu oiço muito melhor o comboio em dias de chuva, por isso, na minha mente, associam-se os dois.
Coisas da chuva...