A senhora da loja dobra diligentemente o papel colorido
sobre a caixa que contém o presente. Dobra um lado, dobra outro. Uma ponta
solta-se, volta a dobrá-la. Solta-se mais uma ponta do outro lado. Consegue, por
fim, selá-la com fita-cola. E mais um bocado de fita para colar melhor. Vira o embrulho
e torna a dobrar. E torna a esticar o papel. Alisa-o com a mão, vinca-lhe a
dobra na diagonal. E de novo tudo igual para que a ponta de papel que ainda
falta dobrar se alinhe com a outra e, simetricamente, forme o fecho que ainda
falta colar para acabar o embrulho. A senhora vai dobrando, vai colando e pega
finalmente num laço já preparado que se encontra na caixinha, ali ao lado. Enquanto
o endireita e escolhe o ponto mais adequado do pacote para o pregar, deixa que
lhe saia um desabafo. No outro dia, só de ver aquelas meninas a fazerem os
embrulhos no Jumbo estava cá a dar-me uns nervos. Só me apetecia ir lá meter as
mãos.
E enquanto ela prossegue com a finalização do embrulho,
colando as pontas do laçarote, eu concentro-me esforçadamente, para aquietar as
minhas mãos escondidas nos bolsos.