segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

As velhas

O Chico e a mulher, aquilo era uma vergonha. Andavam sempre à bulha. Até na loja, para quem quisesse ouvir as discussões. A loja faliu. Ah pois. E eles separaram-se. Agora ele vai sempre comer ao restaurante do primo. Mas ele tinha fortuna? Não. Quem tinha era a família da mulher. Já há muito que não vejo o Chico. Ele esteve mal. Cortaram-lhe os dedos dos pés. É diabético. A minha filha trabalhou lá na loja durante uns vinte anos. Depois faliu e ela não teve direito a nada. Agora há uns quatro anos que está ali. Não é por ser minha filha mas quando para lá foi deu cá uma volta àquilo. A que lá estava, ao tempo, não fazia nada. Anos e anos com mercadoria acumulada. Pouco tempo depois de para lá ira a minha filha, entrava-se e nem parecia a mesma loja. Achas que ela ganha mais por isso? Não. Mas é do feitio dela. Pronto. Isto está bom é para os gatunos. Como aqueles que governam isto. Quem é honesto não leva nada. Isto está bom é para ladrões. Olha, como aquela do lenço. A dizer que conhecia a mulher, que era vizinha dela e a arrebanhar o lenço. Que lho entregava. Acreditas? Ah mas se ela aqui voltasse, eu dizia-lhe. Mas sabes quem é? Eu não. Mas reconhecia-a, de certeza. Não me esqueço de uma cara. Era capaz, oh se era. Perguntava-lhe, então entregou o lenço à mulher? Logo vias a cara dela.
 
Acabei de almoçar, saí do restaurante e as duas velhas da mesa pegada à minha continuaram a afiar a língua. Num destes dias ainda se aleijam.

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