No banco de pedra, canadianas encostadas, gorro de lã preto, a mulher que teve dez filhos apanha o sol da tarde e estranha a minha obsessão fotográfica com o jorro de água que sai da fonte. Teve dez filhos, conta, mas quatro raparigas morreram. E é de morte que mais fala. Conta-me dos que por ali morreram, dos que por ali vão morrendo. Da mulher daquele senhor que passou rua acima, da que morava ali adiante naquela casa amarela, da que foi para o lar e durou menos de uma semana. Os filhos não tomam conta, vão para o lar e morrem logo. Quer saber se na minha terra também há gente que morre. Fala-me dos sacos de medicamentos que tem só para ela, mostra-me com a mão o tamanho que têm. Não consegue já ficar muito tempo em pé, mas de resto as análises que há pouco mais de um mês realizou mostram que está tudo bem. Assim disse o médico, que muitos mais novos não tinham análises tão boas. Vai fazer anos em breve. Quantos, pergunto-lhe. Ah, o meu filho é que sabe.
Um gosto voltar a lê-la, Luísa. Fez falta.
ResponderEliminarMeu pai também fala dos que morreram, mas sempre com ar vitorioso, como a dizer, e eu ainda cá estou.
Também é um pouco isso, bea, a vitória um tanto amarga e doce de sobreviver aos que já foram.
EliminarObrigada. :)
Me trouxe lembranças, minha mãe teve dez filhos.
ResponderEliminarbjsss obrigada pelo carinho!
Ena... A minha mãe, que teve 6 irmãos e irmãs, só me teve a mim.
EliminarObrigada lenalima.
A história de uma vida, de vidas que passam por nós, recordando momentos reais e alguns bem tristes.
ResponderEliminarGostei de te ler Luísa 🌺
Há vidas longas, com muito para contar, Manu. :)
EliminarTal como a Bea senti a tua falta, Luísa.
ResponderEliminarDos retalhos de vidas que nos vais contando, umas sofridas, outras estranhamente invulgares, mas todas verdadeiras.
É muito voltar a sentir a proximidade da tua presença.
Beijinhos, Luísa!
Obrigada Janita! Encontrei esta mulher no Douro, por onde andei a passeio. Era bastante faladora e eu até sou boa ouvinte. :)
EliminarConheci muitas assim.
ResponderEliminarE ainda conheço.
Desconhecem o tempo e a idade.
Bfds
A memória é seletiva, dizem.
EliminarBom fim de semana, Pedro.
É um tema recorrente em gente idosa mas também em mais novos.
ResponderEliminarNão sabe a idade mas sabe quem morreu!
Abraço
Tem uma idade em que a morte se torna muito presente, para mais sendo um tema exacerbado nestes tempos pandémicos.
EliminarAbraço, Rosa dos Ventos.
Que bem nos faz ouvir e falar com os outros, sem ser através da tecnologia. Conviver, conhecer os problemas e se pudermos ajudar, tanto melhor !
ResponderEliminarEstamos a retomar os contactos interpessoais, Ricardo. Esperemos que sem retrocesso. :)
EliminarTambém gosto de encontrar este género de conversa! Bom fim_de_semana!
ResponderEliminarHumaniza-nos, Gracinha. :)
EliminarApesar de confessar tudo, essa senhora escondeu a idade. Uma maravilha para contar, ou para fazer de conta. Quem sabe seja o que for sobre a imaginação do contador?
ResponderEliminarSurpreendente. Até porque esperaria que atirasse com o tal orgulho da longevidade alcançada. E a sério, Teresa, que neste caso particular, a contadora nem acrescentou qualquer ponto. :)
EliminarRealmente cada ser guarda um mundo!
ResponderEliminarQue seja um bom regresso às rotinas!🌼
Amanhã já regresso a veloz rotina do trabalho... Já tremo. :)
EliminarObrigada Dulce.
Gosto de ouvir estas pessoas cheias de vida de passada e que elas conseguem passar.
ResponderEliminarObrigada
E elas gostam de ser ouvidas, Maria. :)
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