quarta-feira, 6 de março de 2019

Antes o voo da ave



Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é a Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!


Alberto Caeiro

9 comentários:

  1. Linda postagem, Luisa!
    A foto é um encanto, os versos de Caeiro, encanto são.
    «Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!»
    Beijo.

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  2. Um poema desencantado, este, onde o heterónimo de Pessoa realça o voo da ave.
    A fotografia está genial. :)

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  3. Maravilhosa publicação :))

    Hoje:- Anunciando a Primavera.

    Bjos
    Votos de uma óptima noite

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  4. Alberto Caeiro na sua aparente simplicidade é o mais filosófico dos heterónimos de Fernando Pessoa!

    Abraço

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  5. Muito bonita esta foto de uma ave em contraluz !
    A poesia é Fernando Pessoa no seu outro eu, Alberto Caeiro !

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  6. Desde que não seja a águia Vitória... :)))

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  7. Tanta vez penso, como Alberto Caeiro, que é uma sorte ser ave, não deixar pegada, ser leveza de asa. Mas não se foge à condição. E não somos aves. Estamos pejados de recordações, sinais da vida que passou e também somos, peso.

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  8. E passou muito bem esta tua ave negra em fundo nublado.
    O poema de Caeiro foi uma boa escolha, Luísa!

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