terça-feira, 26 de março de 2019
segunda-feira, 25 de março de 2019
domingo, 24 de março de 2019
sexta-feira, 22 de março de 2019
Linda de morrer
Ela
era linda de morrer. Ele queria conquistá-la, mas temia só vir a
ter um lindo enterro.
terça-feira, 19 de março de 2019
Talvez tudo fosse nada
(…)
Falhei
em tudo.
Como
não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A
aprendizagem que me deram,
Desci
dela pela janela das traseiras da casa,
Fui
até ao campo com grandes propósitos.
Mas
lá encontrei só ervas e árvores,
E
quando havia gente era igual à outra.
Saio
da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
(…)
Álvaro
de Campos, Tabacaria
domingo, 17 de março de 2019
Passeio de domingo (441)
Não é o passeio do dia. Esta passagem pela Senhora da Rocha já tem duas semanas e vem para aqui para preencher um domingo ocupado com outras lides.
quinta-feira, 14 de março de 2019
Saudade do que não foi
Uma
saudade profunda, esmagadora. Estou torturado por desejos sem nome de
coisas que perdi para sempre, que jamais tive, jamais vi, que nunca
cheguei a saber o que eram.
Eugène Ionesco
Restos de recordações
(Primavera de 1939)
in O retrato do coronel,
Editora Arcádia, 1963.
domingo, 10 de março de 2019
quinta-feira, 7 de março de 2019
Milú
Já
tinha notado que algo estranho se passava com a tecla Esc do meu
computador. Uma espécie de poeira muito leve rodeava-lhe a base e
uns fios brilhantes espalhavam-se uma ou outra vez até à carreira
das teclas eFes, ou, em sentido contrário, até à da tabulação.
Com
um sopro, as pontas dos dedos ou um pano do pó eliminava estes
sinais sem lhes atribuir especial importância até que ontem, ao
carregar na tecla Esc para reanimar o monitor que, durante uma pausa
mais prolongada da minha atividade, se tinha apagado em modo poupança
de energia, pareceu-me ouvir um lamento. Olhei com mais atenção e
percebi que, no retorno da tecla à sua posição de descanso,
escapava-se para debaixo dela uma pequena aranha.
Resolvi
chamá-la. Pssssst, sai daí. Não temas, sai daí. Ainda a medo, foi
colocando pata ante pata sobre o teclado parando estre o Esc e o F1.
Era Milú, a aranha sem-abrigo.
Contou-me
que nos finais do ano passado, durante sete dias e sete noites,
ventos estranhos e quentes sopraram sobre o navio onde estava
passando as férias natalícias. Sob o efeito daqueles ventos
misteriosos toda a tripulação caiu num sono profundo. Nem as
trovoadas que se seguiram ao curioso evento foram capazes acordar
aquela gente que, seguramente até hoje se mantém inanimada.
Antes
da bizarra ocorrência, testemunhou ainda o dramático sequestro da sua capitã, atingida no peito por uma seta de amor e levada para
parte incerta.
Naquelas
tristes circunstâncias, Milú resolveu ir ao encontro da sua tutora Flor de quem também já tinha saudades. Meteu-se à estrada,
escolhendo as bermas com mais vegetação para se abrigar. Seguiu por
atalhos para mais depressa chegar à casa das palavras. Lá,
estranhou o silêncio e a porta aberta. Entrou, percorreu os recantos
onde tinha sido feliz, chamou, mas ninguém atendeu. A casa parecia
abandonada. Ainda por lá ficou umas semanas, mas o peso da solidão
tornou-se-lhe insuportável. Fez-se de novo à estrada e agora
percorre as ruas do blogobairro, procurando abrigo aqui e ali, na
expectativa de um feliz acaso que a faça reencontrar as suas duas
guardiãs. Por estes dias abriga-se à esquina de uma tecla.
quarta-feira, 6 de março de 2019
Antes o voo da ave
Antes
o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que
a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A
ave passa e esquece, e assim deve ser.
O
animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra
que já esteve, o que não serve para nada.
A
recordação é uma traição à Natureza,
Porque
a Natureza de ontem não é a Natureza.
O
que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa,
ave, passa, e ensina-me a passar!
Alberto
Caeiro
terça-feira, 5 de março de 2019
Cantoria
Seriam umas seis e meia da
tarde quando o ouvi cantar. Era um som alegre e cristalino que se
distinguia facilmente dos comuns piares dos pardais e de outros
pequenos passeriformes que, ao lusco fusco, ensurdecem os ramos das
árvores. As suas notas melodiosas elevavam-se no ar provindas da
parte de trás da minha casa. Procurei vê-lo, mas o pássaro
escondia-se com toda a certeza na verde ramagem da alfarrobeira.
Recordou-me, pela beleza do canto, uma famosa ave canora de que há
muito não se tem notícia pelas bandas do bairro bloguês. Num leve
sobressalto, imaginei que talvez se tivesse abalado para estas terras
do sul e como numa brincadeira de Carnaval me estivesse agora a
desafiar os ouvidos. Mas este não era um pássaro de beiral ou teria
escolhido outro poiso, com tanto telheiro disponível que por aqui
tenho. O outro, além disso, era madrugador e atuava sempre à
primeira claridade das manhãs. Não, este era sem dúvida outro
pássaro, num outro tempo, num outro tom.
domingo, 3 de março de 2019
Passeio de domingo (439)
Um cheirinho do percurso dos sete vales suspensos, que se pode fazer pela arriba costeira de Lagoa. Aqui, apenas na parte que corresponde à praia da Marinha.
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