Há
quem diga que ler é perigoso e acho que estou finalmente a perceber
porquê.
Foi-se
o tempo em que lia um livro de cada vez. Não me parecia admissível
interromper uma história para me embrenhar noutra e se acaso me
arrastasse na leitura por qualquer quebra de interesse na narrativa,
ainda assim, mantinha-me firme no consumo da obra como se de uma
obrigação se tratasse. Abandoná-la seria quase sacrilégio,
dedicar atenção a uma história concorrente, pior ainda; portanto
continuava estoicamente até ao último ponto final.
Foi-se
esse tempo há muito tempo e hoje surpreendo-me por conseguir não
confundir cenários e enredos dos vários livros que enceto em
simultâneo e que vou amontoando na mesa de cabeceira, escolhendo à
vez aquele que me acompanha em cada serão. Pior, quando compro
títulos novos, tomando por boa a mais que estafada metáfora de
devorar livros, tenho sempre mais olhos que barriga e acrescento-os à
pilha da mesa de cabeceira. Bem podia acomodá-los na estante para lá
esperarem a sua vez, mas tenho cada vez mais relutância em fazê-lo.
Anseio por estreá-los e preciso, de uma forma quase doentia, tê-los
junto a mim, bem ao alcance da mão. Assim, e porque leio devagar, a
tal pilha agiganta-se formando uma torre periclitante e sei que corro
sérios riscos de a ver, numa destas noites, desabar sobre mim.