Quando é que a menina da loja se dá conta que, assim, não
vai vender? A mim, pelo menos, não vai vender. A menina da loja devia
cumprimentar-me quando entro e perguntar-me se desejo alguma ajuda. Se eu a dispensar, naquele momento, a menina
da loja devia deixar-me circular em paz, apreciando as peças que bem me
apetecesse, sem mais. Mas não. A menina
da loja vê-me pegar num blusão e logo se apressa a explicar que aquele não é em
pele mas também os tem – os blusões – em pele. E mais, a cada peça que ouso agarrar
lá vem ela com mais um comentário, mais uma explicação. Que é da nova coleção.
Que é muito bonito. Que este ainda está em saldos. Que o primeiro andar também
tem saldos. Que posso experimentar. Que ali estão as calças. Que e que e que e
mais ainda que. Pois eu não quero saber dos seus que. Eu só quero ver as
novidades para, eventualmente, me deparar com uma peça irresistível e, sem
apelo nem agravo, deixar-me levar à loucura do consumo imediato. Ou então, em
dias razoáveis, levar a peça na cabeça para pensar nela, pesando vantagens e
inconvenientes, até uma decisão final. Só que a menina da loja estragou tudo.
Com tantos que, desencadeou em mim uma incontrolável reação alérgica que
ameaçava transformar-se numa resposta torta. Tive que sair apressadamente da
loja para respirar fundo e concluir que nem tão cedo lá volto a pôr os pés.