Foi um domingo azul. Em Armação de Pera.
domingo, 31 de janeiro de 2016
Choque
Ainda estou em choque. O empregado do cinema vendeu-me
bilhetes sénior. Como é possível eu ter envelhecido tanto de há quinze dias
para cá? E nem sequer fiz anos. Ainda pensei reclamar. A salvação dele foi que
coisa me saiu mais económica.
sábado, 30 de janeiro de 2016
Lengalenga
Lagarto pintado
Quem te pintou?
Foi um artista que aqui passou
Por esta via
A fazer magia
E na parede me deixou.
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Lua
Bem me parecia que, pelos vidros foscos da porta que dá para
a varanda, se via um pequeno clarão. Abri a porta e, como pensava, é ela. É a
lua que já se mostra um pouco achatada na parte superior, iniciando o seu
caminho ritual e minguante. Também a vi pela manhã. Estava branca e leve como
uma nuvem. Vi-a a oeste. Dançava sobre três cabos alinhados paralelamente e
devidamente esticados entre postes de luz ou de telefone - não sei. Invejei-lhe
a suavidade do relevo que se deixava perceber entre partes mais ou menos transparentes.
Foi uma visão breve. Só o tempo de virar a cabeça para a direita para conferir
o trânsito e perceber se podia entrar na estrada principal. Ainda tentei ver,
pelo retrovisor, se ela continuava ao alcance do meu olhar, mas não. Ainda
assim, a sua imagem acompanhou-me por boa parte do percurso. Depois veio a
vidinha. Aquela que é igual todos os dias. Ou quase. Agora, ao vê-la de novo,
percebo que também ela tem a sua vidinha e que nem sempre pode dançar descontraída
sobre os cabos aéreos.
domingo, 24 de janeiro de 2016
Passeio de domingo (291)
O passeio, entre a praia do Forte Novo e a do Almargem, em
Quarteira, tem uma semana de vida e foi previamente agendado para este domingo em
que estarei em viagem e sem tempo para editar.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
Noturno
Os 16ºC de temperatura
que a aplicação instalada no telemóvel mostra para Faro não deve estar longe da
realidade. A noite está morna e embaciada. Ao longe, para o lado do mar, uma
leve bruma dilui os contornos das árvores e das casas e esfuma o brilho das
luzes que acompanham o traçado da estrada. No céu, as nuvens também esfumam o
brilho da lua. É uma noite parda e quase silenciosa não fosse o cão que ladra
ao longe e interrompe de vez em quando a calmaria.
Sinto-me baça, tal e qual como a noite.
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Cais
(…)
Ah, quem sabe, quem sabe,
Se não parti outrora, antes de mim,
Dum cais; se não deixei, navio ao sol
Oblíquo da madrugada,
Uma outra espécie de porto?
(…)
Álvaro de Campos, Ode
Marítima. (Revista Orpheu, nº2, 1915)
domingo, 17 de janeiro de 2016
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
As molas
Há os afazeres da dona de casa em
volta da despensa, do frigorífico e do fogão. Há as compras, as refeições e as
arrumações. Há as mudanças de roupa, as máquinas postas a lavar e o estendal. E
depois há o caso das molas.
As molas da roupa são um caso
sério. Diria que quase poderiam ser tema para uma tese. Ou melhor, o modo como
se utilizam as molas poderia ser alvo de um estudo aprofundado. Eu, por exemplo,
tenho um cesto para as molas e dou-lhe uso. Senão para que me serviria um cesto
de molas? Quando ponho a roupa a secar na corda, retiro uma a uma as molas de
que necessito. Pego em duas ou três molas, agarro na peça de roupa que se
encontra no alguidar, sacudo-a energicamente, escolho as pontas por onde a vou
pendurar, coloco-as na corda e prendo-as com as tais molas. Vou repetindo a
operação até esgotar a roupa molhada e aliviar o peso do cesto das ditas molas.
Até aqui tudo muito corriqueiro, tudo muito normal, dir-me-ão. E eu concordo. A
questão coloca-se essencialmente no modo de recolha da roupa. Nesta fase da
operação é que se dividem as práticas. Há quem, como eu, retire meticulosamente
cada mola de roupa da corda, voltando a colocá-las no cesto. É para isso que
ele serve, não é verdade? E há quem recolha a roupa abandonando as pobres molas
à sua sorte no estendal. Umas ficam por ali, a baloiçar de pernas para baixo –
isto se considerarmos como pernas as suas extremidades mais afastadas. Outras estarão
fixas na corda com as pernas para o ar.
Não digo que, assim, não se crie
um interessante efeito estético. Na verdade quantas fotografias, quantas
ilustrações não as têm por tema? Uma corda pejada de molas de roupa coloridas.
Ou então uma série muito clean,
natural e uniforme de molas de madeira. Acho bonito, até, mas nada prático
quanto se tem de voltar a estender roupa. Nesse momento temos as molas a ocupar
o espaço em que precisamos de colocar os lençóis, as toalhas, as camisas, as
calças, as meias, as cuecas… Precisamos então de as empurrar para um lado, desocupando
parte da corda. Isso até funciona para quem as deixou de pernas pendentes mas
para aquelas que estão bem presas pelo seu lado funcional de mola já não é tão
evidente. Também será possível chegar junto do estendal e proceder à total
remoção das molas antes de iniciar a operação de colocação da roupa a secar. Pessoalmente,
considero este modus operandi um
transtorno. A tarefa de estender roupa acaba por ser mais demorada. Prefiro,
sem sombra de dúvida, dar uso ao cesto das molas sempre que tiro e ponho roupa
no estendal.
Reconheço que a minha opinião
pode não ser pacífica. Outros entenderão que é muito mais prático deixar as
molas na corda. Parece-me, indubitavelmente, que este problema é merecedor de um
estudo. Hoje em dia estuda-se tanta coisa. Chego a pensar que quanto mais
disparatado o tema mais furor farão os resultados no momento da divulgação.
Um dia destes, ainda faço um
inquérito sobre o modo de uso das molas de roupa em Portugal.
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
Miradouro
Teoricamente
não devia haver aqui uma cadeira
muito menos uma cadeira partida.
Porque se quebrou?
Não há sentido numa cadeira desfeita
assim.
Praticamente
todos os dias se quebram cadeiras
em algum lugar.
Mas assim, mirando o mar?
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
"Troca-línguas"
Ainda vem longe a primavera mas, no fim de semana, já pude observar as aves que a anunciam voando sobre a Lagoa dos Salgados. O espanto baralhou-me de
tal forma o pensamento que misturei as línguas e dei por mim a falar de “hirondinhas”.
domingo, 10 de janeiro de 2016
Passeio de domingo (289)
Passeio à volta de uma amendoeira apressada. Disse o velhote
que por ali andava, que é sempre assim, que as flores daquela amendoeira são
sempre as primeiras a chegar.
Janeiro
Falo hoje do tempo que é assunto de encher tempo. Embora, aqui
e agora, seja só para encher espaço. E para que as imagens também respirem
algum ar de palavras, por pobres e rarefeitas que estas andem por cá.
O tempo vai de feição com a estação. O inverno anda morno
mas, ainda assim, traz vento, chuva e nuvens cinza para provar que é ele que,
por estes dias, comanda o tempo.
É um trapalhão, este inverno. Quer fazer-se de feio, ruge,
salpica, ensopa até, franze o cenho, põe cara de mau. Mas depois descuida-se e
deixa-se surpreender por pequenas flores, amarelas, roxas, rosa, que já crescem
na beira dos caminhos e, imagine-se, até uma frágil e solitária papoila deu
sinal de si no meio do campo de azedas que calcorreei pela manhã.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
domingo, 3 de janeiro de 2016
Passeio de domingo (288)
Posso dizer que 2016 não me ligou nenhuma. No preciso
momento em que edito este passeio chove de novo. Mas também posso dizer que o fintei aproveitando o
bocadinho de aberta que a manhã deixou escapar. E, para variar, fui ver o mar.
sábado, 2 de janeiro de 2016
2016
Para o que te havia de dar, 2016… Em vez de nasceres
glorioso, azul, cintilante e me dares o impulso desejado, a energia
fundamental, a disposição conveniente, em vez disso surges cinzento, baço e lamechas.
Trata de te recompores, afasta as nuvens, seca as lágrimas e
liga o interruptor que acende a lâmpada maior, essa que pende do mais alto teto.
Ouviste? Percebeste? Ou tenho que te fazer um desenho?
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