quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A roseira

A roseira ainda está ali. Está junto à parede que já foi branca de cal. A parede mudou de cor e de textura. Foi revestida de pedra até meia altura e foi pintada de rosa salmão, mas a roseira ainda está ali. Está em flor, como sempre a vi, com rosas pequenas e rubras. Na imagem que vejo quando passo junto à roseira falta a figura da avó. Lembro-me dela encostada à roseira, vestida de negro e em esforço para endireitar o tronco que já se apresentava dobrado pelos anos de duro trabalho. Vejo-a assim, como sei que ficou registada numa fotografia que deve estar guardada no velho álbum arrumado na estante do escritório. Há imagens como esta que se fixam na memória e que não se desvanecem. É uma fotografia a cores que não vejo há muitos anos mas sempre que passo junto à roseira que vive rente à parede, que já foi branca de cal, vejo ali a avó, vestida de negro e de lenço na cabeça. Sempre de lenço e chapéu preto na cabeça.

13 comentários:

  1. Uma avó bem algarvia, pela descrição tão cheia de ternura!
    Eu "vejo" sempre a minha avó paterna no pátio a cirandar...

    Abraço

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  2. Que linda recordação.
    Fiquei comovida.....é que hoje para mim também é um dia de recordações....
    :((

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  3. É a vida nas raízes que se prolongam intemporais e que tem muito de quem lembra e de quem cuida.

    Também acho que são boas lembranças!

    Bjnhs

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  4. Eu vejo a minha avó materna em frente a um alguidar de barro a amassar filhós e depois fritá-las; vejo-a também a amassar pão para consumo doméstico antes de a padaria ter sido construída e convenientemente apretrechada na parte detrás da casa.

    Muitas recordações me fizeste ter neste momento de uma pessoa de quem muito gostei... : )

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  5. Objectos que funcionam como gatilhos da memória, luisa.
    Acontece com todos nós.

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  6. identifico-me imenso com este texto, quando me lembro da minha bisavó que ja partiu há 4 anos e passo nos locais lá de casa em que ela tinha as suas rotinas.

    Sónia
    Taras e Manias

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  7. Talvez porque ontem escrevi um post ( aliás dois) sobre um livro onde a Natália é a figura principal, ao ler o seu post lembrei-me imediatamente de um livro/diário dela: Não Percas a Rosa.
    Como hoje escrevo sobrea MRP, começo a acreditar que Não Há Coincidências :-)

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  8. Um belo texto, onde a saudade se reflecte nas rosas pequenas e rubras, ainda que a parede já não seja branca de cal...

    Abraço.

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  9. Foi este texto lindíssimo que me trouxe até ti e, em consequência, chegaste a nós... tinha de ser este post a fazer a ligação entre nós, não era? O meu coração de neta ficou apertadinho com as tuas palavras. Obrigada.

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  10. A memória, por vezes, fotografa melhor que uma máquina. E, vê-se bem, essa "foto" da avó está repleta de afectos.

    Beijo :)

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