Saiu-me aquela palavra boca fora. Quase nem dei por ela se
estar a formar. Quando percebi já se projetava no ar, retinindo e passando sem
entraves pelo bocal do telefone. Chegou no mesmo instante ao ouvido
destinatário. Estava dita. Nada mais havia a fazer. Acabada a conversa, pousado
o auscultador, pairava à minha volta a sua sombra. A sombra das palavras mal
ditas entranha-se no pensamento e gira como um remoinho imparável. Roda e roda
e continua a rodar. Pode até parar por alguns instantes mas logo volta a
zumbir, como uma mosca que fica fechada no interior de uma pequena sala e que
bate incessantemente contra os vidros da janela, procurando a libertação. Aquela
palavra está assim. Girando e zumbindo incessantemente, atirando-se, furiosa, contra
as paredes do meu pensamento. Procura escapar-se de mim mas não há uma fresta
sequer que lhe conceda passagem. Há de infernizar-me dias a fio até cair
inanimada e morrer de exaustão. Ainda
assim, depois disso, temo que volte, como fantasma, assombrando-me as ideias.
Que texto tão bem conseguido, Luísa!
ResponderEliminarMas vê se consegues entreabrir uma janela para a malvada deixar de zunir na tua cabeça e sair livre para o espaço...
Beijinhos
Os chineses dizem que há três coisas que nunca voltam atrás: a seta lançada, a palavra proferida e a oportunidade perdida. Por isso, o melhor é não pensar muito nisso e seguir o conselho da Graça
ResponderEliminarMal(dita)... boa escrita.
ResponderEliminar:)
Pense assim: palavras... leva-as o vento!
ResponderEliminarDeixe-a ir...
O que não tem remédio, remediado está.
ResponderEliminarÉ pr’a esquecer! : )
O Carlos imitou-me por antecipação.
ResponderEliminarEra a sabedoria chinesa que eu ia citar.
Já está dito :(
Sei bem o que isso é, mas depois de dita é esperar que passe...já não há nada a fazer :(
ResponderEliminarBeijinho :)
Mal dita ou maldita?
ResponderEliminarMaldita palavra que te pôs assim!
Deixa lá, "palavras leva-as o vento" e, como a ventania tem sido tanta, a tal palavra já está longe!
Abraço
Foi sentida?!?
ResponderEliminarFoi justa?
Foi as duas coisas ,foi só uma...
Agora é só actuar de acordo com o coração.
xx
Ora, e eu que julgava que o provérbio chinês falava em pedra lançada e não em seta? Também foi o que me veio à ideia, ao ler o teu texto... :)
ResponderEliminarJá por duas vezes desliguei o telefone na cara de duas pessoas. Que começaram por me dar uma descasca por determinada "falha" minha, eu acatei, mas depois a irritação levou-as a excederem-se nas palavras e acusações que se seguiram, cada vez mais graves, como bola de neve. Nem disse mais nada. Desliguei. Fiquei incomodada, mas não precisava de mais. Mas elas também ficaram, até porque deu para perceberem que já estavam a ultrapassar todos os limites do razoável. Uma ou duas palavras mais agressivas e ferozes ainda se aceitam, agora um chorrilho delas, ainda por cima injustas? No way!
Ambas as histórias já se passaram há muitos anos, mas tenho dormido bem com isso e não me arrependi minimamente! Mas se me tivesse arrependido, não me custava nada pedir desculpa... :)
Beijocas!