Era um dia claro de um azul de aço. Os espaços do ar e do mar estavam inteiramente penetrados pelo azul; mas o céu, suavemente claro e puro, tinha alguma coisa de feminino enquanto o mar robusto era um macho cujo peito se elevava em poderosos e lentos haustos, como Sansão adormecido.
Aqui e além, muito alto, vogavam as asas brancas como neve de pequenos pássaros imaculados; pareciam ser os doces pensamentos femininos do céu, enquanto que, rodando no seio das profundezas muito fundo, sob o insondável azul, os poderosos leviatões, os espadartes e os tubarões misturavam as suas nuvens, e eram os pensamentos fortes, assassinos e perturbados do mar viril.
Mas as diferenças que pareciam separar o mar e o céu não passavam de matizes e de sombras; na realidade os dois elementos estavam misturados; apenas este conhecimento espiritual do seu sexo os dividia.
No zénite, tal um rei absoluto, o Sol parecia ser aquele que casava o céu suave com o mar audacioso e atormentado, como a esposa com o esposo. Na linha redonda do horizonte, um arfar leve denunciava a suave e palpitante confiança, o temor afetuoso com os quais a tímida noiva oferecia o pescoço.
Herman Melville, Moby Dick, 1851
Bela descrição!
ResponderEliminarAbraço
Também gostei. :)
EliminarUm texto muito bonito, que não conhecia. Nunca li o romance.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom domingo
Estou a terminá-lo, Elvira. :)
EliminarTexto muito bonito que elogio por muito ter gostado de ler
ResponderEliminar.
Um domingo feliz … Saudações poéticas
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
Um excerto que também achei bonito.
EliminarObrigada.
Li "Moby Dick" há muitos anos e creio que também vi o filme, mas foi tudo há tantos anos que, sinceramente, para além da ideia geral da perseguição obstinada de um certo capitão, para acabar com a baleia, que levava os barcos para o fundo do mar, pouco mais recordo. Esse excerto pouco me diz, Luísa, lamento. Mas gostei muito.
ResponderEliminarUm abraço.
Ainda não tinha lido, Janita. É de peso... :)
EliminarObra que comprei em 2021 na Feira do Livro de Lisboa e cuja leitura ainda não terminei porque me enfastiou tanto mar e pus outros livros à frente. Qualquer dia o terminarei.
ResponderEliminarNão sei se é de tanto mar, bea. Talvez seja de tanta baleia e tanta descrição "científica" destes cetáceos. É uma obra singular. Não me entusiasmou por aí além, embora lhe reconheça o valor.
EliminarPor momentos cheguei a pensar que havia algo de diferente na prosa da Luísa, que muito aprecio, e só no final me apercebi que era uma transcrição. De bom gosto, diga-se.
ResponderEliminarUm excerto que me cativou, AC.
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