terça-feira, 23 de junho de 2015

Fim de tarde

A tarde chegava ao fim e Cecília observava a tonalidade rosa que o céu ia adquirindo à medida que o sol desaparecia no horizonte. Era bonito. Gostava de ver aquela declinação de cores, a transição do azul para cinza rosado, meio esfumado, para o lado nascente e o tom mais dourado, quase chama alaranjada, que chegava a ofuscar, a poente.

Cecília observava o fim de tarde, debruçada na janela. Vivia só. Já não tinha pai, nem mãe, nunca tivera filhos e já não os teria. Nem primos sequer. Cecília estava no fim da linha e, deu por si a pensar que, ao contrário do sol, que renasceria sempre no dia seguinte, ninguém estaria cá para continuá-la no dia seguinte ao seu derradeiro fim de tarde. 

15 comentários:

  1. Muitas vezes dou por mim a pensar como a Cecília...

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  2. Tenho a certeza que a Cecília, com a sua sensibilidade, deixou uma marca no coração das pessoas com quem conviveu e que essa marca passará de pais para filhos, perpetuando essa característica. Quem sabe se, daqui a muitos anos, os filhos dos vizinhos de Cecília não contemplarão o pôr-de-sol à janela como viram os próprios pais fazer, depois de estes terem aprendido com Cecília. Fica cá sempre mais de nós do que pensamos...

    Que texto tão bonito, luisa!

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  3. Que triste o pensar da Cecília! Tomara ela se anime! beijos, tudo de bom,chica

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  4. Pobre Cecília, antecipando o breu. Talvez se engane...
    Boa noite querida Luísa.

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  5. Magnífico e tocante poema...

    A realidade de tanta gente!

    Beijinhos.

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  6. ~~~
    ~ ~ Oxalá
    ~ Cecília tenha muitos amigos,
    pois a sua qualidade de vida é,
    realmente, o mais importante.

    ~ Em jeito de reflexão, um texto
    conciso, de grande humanidade.
    ~ Excelente, Luísa.
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. retrato do quotidiano.
    muito bem retratado

    excelente.

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  9. Alguém há-de recordar os olhos de Cecília, nesses dias em que se debruçava à janela.

    Beijos, Luísa. :)

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  10. Quantas "Cecílias", por esse pais fora ! ... O isolamento triste e quase constante de tantos ! ... até que há um dia que é o derradeiro e não mais fins de tardes !
    Muito bem escrito Luisa e um tema chocante !

    Beijinhos !

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  11. Muito bonito, muito bem escrito, mas deixou-me assim com os olhos vidrados e com um nó na garganta...

    (mesmo com filhos e netos e assim...)

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  12. Olá, Luísa. Penso que todos temos medo da solidão ao final da vida. Um abraço!

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  13. Olá, Luisa.
    Tantas Cecílias por esse mundo fora... um dó no coração.

    bj amg

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  14. Cecília há-de ficar numa palavra que escreveu, numa receita que deixou, numa foto que tirou.

    Um beijo, querida Luísa.

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