terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A cadeira


Já não vejo há algum tempo o homem que se costuma sentar numa velha cadeira, no passeio daquela rua por onde quase sempre passo e que fica ali, vigiando o movimento e esfregando os joelhos com as mãos. Naturalmente que a sua ausência se deve ao facto de, neste tempo de inverno, eu por lá passar em horas de frio, manhã muito cedo ou ao fim do dia, noite caída.
Tenho, no entanto, visto a cadeira. Não é a mesma. Aquela cadeira de jardim a que já faltava uma ripa de madeira foi substituída por outra, igualmente velha. Pés de metal oxidado, assento e encosto de estofo preto, de napa sintética, muito gasto. Uma cadeira tão velha e tão gasta que durante algum tempo teve uma, também velha, camisola de algodão a forrá-la desajeitadamente. Agora já nem camisola tem. Passo pela cadeira vazia e vejo-a esventrada, com o contraplacado do assento completamente à vista.  A continuar assim, imagino que a verei em breve com a madeira gasta e um buraco central a mostrar a calçada.
Então, é provável que o homem a substitua por outra cadeira que também já será velha mas que não deixará de cumprir a sua função, servindo-lhe de assento nas longas horas de vigia.

9 comentários:

  1. E tantos que são os velhos que passam o seu tempo sentados numa cadeira assim, luisa

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  2. ~ Normalmente costumam reunir-se, esse é só...

    ~ Pelo menos, merecia uma boa cadeira!
    .

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  3. Quem sabe se ele nunca mudará a cadeira !....
    Por vezes mesmo não sendo confortável " é a sua cadeira ".

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  4. Perfeita descrição, que nos faz ver a cadeira tal qual ela é, Luisa!
    ... e o homem, quem sabe ?... com este frio estará,... são tantas as possibilidades, que não nos poderemos pôr a adivinhar ! :))
    Será melhor passar por lá a diferentes horas do dia para matar a curiosidade ! :))

    Beijinho !

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  5. Imagino a cadeira e fico a pensar no tal homem que tem andado recolhido, espero que esteja bem.
    xx

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  6. Que a ausência desse homem, seja apenas motivada pelo frio, um dia com um sorriso nos lábios, ainda vais dizer-nos, "afinal a cadeira voltou a ser utilizada"

    beijinho

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  7. deve regressar na Primavera com uma cadeira nova que será já velha...os velhos que passam o dia nos jardim em vigília são como as andorinhas ...

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  8. Há cadeiras e...cadeiras! Precisamos apenas de uma só...
    Um 2015 feliz.
    Bj
    Graça

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  9. Penso que pior que a ausência do senhor ou que a cadeira esquecida no tempo são as pessoas que passam mas nunca se dão conta de um ou outro. Um abraço!

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