O novo horário de trabalho reduziu-me a hora de almoço.
Agora é mesmo só uma hora. E dá para muito pouca coisa. Come-se em trinta
minutos aquecendo a marmita trazida de casa no micro-ondas da sala de refeições
do trabalho e tenta-se aproveitar os restantes trinta para um passeio ao ar
livre, curto que seja. Sempre dá para arejar um pouco. Não dá, no entanto, para
como dantes, resolver assuntos que, não parecendo, são de relativa importância.
Sobretudo em época de aproximação de festas natalícias. Ir à loja tornou-se num
stress. Num dia entra-se para ver, mas não há tempo para experimentar. No dia
seguinte vai-se à prova. E no terceiro chega-se então à caixa.
Isto não é uma queixa. É uma constatação. E constato que,
como eu e como as colegas que me acompanham, há mais quem se veja obrigado a
regressar à mesma loja, à mesma hora de almoço, em dias sucessivos.
E isto para desespero de uma dessas minhas colegas. Ontem,
por distração, conversou durante um ou dois minutos com uma senhora que
escolhia camisolas de malha num expositor situado mesmo em frente ao balcão de
atendimento. Só percebeu que não estava a falar comigo quando levantou os olhos
da camisola que a dita senhora tinha entre mãos e me viu, especada, à espera
dela na porta de entrada da loja. Estarrecida com o engano e com a cara de
espanto que a outra cliente da loja fazia olhando para ela, saiu de rompante
porta fora, incapaz de emitir uma palavra de explicação para a mulher mas rindo
sonoramente da sua própria figura.
O episódio foi divertido e regressámos na maior das boas
disposições ao trabalho. O pior foi hoje, quando voltámos à loja e nos
deparamos com a mesma mulher, junto ao mesmo expositor, apreciando as mesmas
camisolas.
Saímos de fininho, enquanto ela ainda estava de costas.