quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A vida secreta dos objectos - A bruxa mexicana


Nasci no México, tal como as minhas inúmeras irmãs gémeas que a meu lado se pavoneavam numa banca de recuerdos para turista ver e comprar.


Quando o senhor J. L. esteve na minha terra natal, lá por volta de 1990, agarrou-me e em troca de uns pesos enfiou-me numa mala de viagem e trouxe-me para Portugal. O meu destino foi a secretária da L., e lá fiquei plantada junto a resmas de papéis, ao lado do computador, para lembrar diariamente a amizade do colega. Nessa época a minha vassoura ostentava umas lindas cerdas que se foram desgastando ao longo dos anos e acabaram por desaparecer totalmente à custa das intempéries da vida.


Passado pouco tempo da minha chegada a este país voltei a ser enfiada num caixote, desta vez para viajar para as novas instalações do serviço da L. Passei a viver num lindo e moderno prédio, todo envidraçado, decorando uma secretária nova, num gabinete situado no 2º andar. A vida passou a ser tão agitada e tantas mudanças se operavam naquele espaço que acabei por me perder da L. O gabinete do 2ºpiso foi recebendo novos inquilinos que nem deram pela minha existência. Pudera… também desde quando é que uma bruxa tem uma cara tão mimosa como a minha? Uma bruxa como deve ser tem um nariz imponente e de preferência cheio de verrugas!!! Eu não. Coitada de mim que mal se dá pelo meu pequeno apêndice nasal.


Foram tempos difíceis. Até que chegou a F. para ocupar aquela sala. Ela não se importou com a minha falta de jeito para bruxa e adoptou-me. Com ela fiz nova viagem, desta vez dentro do imponente edifício e segui para o 6ºandar. Vistas maravilhosas sobre a cidade. Tempos arejados.


Quiseram entretanto as forças transcendentais que dominam bruxas e humanos, que a F. se tornasse amiga da L. E ele há cada coisa! Há dias a L. viu-me finalmente sobre a mesa da F. e agarrou-se a mim com exclamações de júbilo: “Esta bruxa é minha!!!”


Voltei para o 2º andar, e hoje não me importo nada de não ter um verdadeiro nariz de bruxa e nem sequer uma vassoura a funcionar como deve ser.




3 comentários:

  1. Bom dia...

    Gostei muito da história da bruxita...

    Publiquei há pouco a do arame.

    Obrigado

    Abraço
    JvT

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  2. Essa bruxinha linda é minha filha adoptiva. Andava abandonada e eu tomei conta dela quase 11 anos!!! Tu podes ser a mãe(quase) biológica, mas eu sou a mãe adoptiva! Tenho direitos!

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  3. F,
    Podemos discutir a situação e chegar a um acordo de guarda partilhada. Mas nada de raptos... Tu na sexta-feira já a levaste de fim-de-semana...quero-a de volta na segunda sem falta!!!
    :)

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