Estou deitado no sonho não
perturbes o caos que me constrói
Afasta a tua mão
das pálpebras molhadas
Debaixo delas passa
a água das imagens
Gastão Cruz (1941-2022)
Estou deitado no sonho não
perturbes o caos que me constrói
Afasta a tua mão
das pálpebras molhadas
Debaixo delas passa
a água das imagens
Gastão Cruz (1941-2022)
O primeiro dia já declina. Faço uma pausa nos assuntos de tachos e travessas enquanto uns descansam, outros veem televisão, outros caminham e outros, ainda, saíram em visita a amigos. A mesa continua a ser de excessos, a cozinha é o meu reino. A passagem para o novo ano fez-se com a descendência, lábios na flute de champanhe e olhos no horizonte iluminado com o fogo de artifício que se consegue alcançar aqui da varanda de casa. Não comi passas, não formulei desejos, apenas vivi o momento. E que seja isso, que vivamos o momento, a cada momento.
Bons momentos.
Desligado o forno, broas de café acabadas de fazer, bolinhos de coco também. Filhós de mel e pastéis de batata-doce comprados no mercado e na mercearia, respetivamente. Bolo-rainha a postos. Embebedadas as peras, pudim trazido por quem já chegou de fora, falta-me uma baba de camelo que também anotei em lista de sobremesas. Fica para tarefa de amanhã, coisa rápida antes de atacar os temperos da carne que se há de assar e comer no dia de Natal e dos preparativos para a ceia, prevendo-se aí o incontornável bacalhau.
Rumo ao convívio familiar restrito, que em parte se fará também com a ajuda da tecnologia, mitigando a ausência de quem não poderá vir (rogo aqui praga ao vírus), sento-me por breves minutos frente a este ecrã, não vá o tempo escapar-se todo sem eu conseguir desejar a quem passe por esta esquina um Feliz Natal.
Para cores do ano 2021, a Pantone determinou o cinza (ultimate grey) e o amarelo (illuminating). Neste preciso momento, em conjugação com a chuva que cai lá fora, está o cinza a dominar. Resta-me, então, deixar aqui um breve apontamento de amarelo, para completar este primeiro dia do ano, em jeito de votos para que, todos vós, que me dão o privilégio da vossa visita nesta esquina, tenham um feliz, forte e luminoso ano novo.
Eu, que até nem sou muito de superstições, a cada primeiro dia do ano cumpro com a orientação que a minha mãe sempre me deu. Para que o ano seja bom, para que seja farto e nos traga tudo que necessitamos, devemos estrear uma peça de roupa. Mas tem de ser uma peça de puxar para cima. Assim, nas minhas gavetas haverá sempre, pelo menos, umas meias-calças prontas para atender à tradição. Por isso, logo pela manhã, vesti-me para o dia de ano novo, puxando para cima com esmero uns colãs opacos, da cor do vestido, para que tudo se conjugue e traga 2021, desde o seu início, bem para cima.
E por muito que este blog esteja ao abandono, ao menos duas palavrinhas têm de se fixar por aqui para que quem as veja as possa levar consigo: Boas Festas!