sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Retrato

 

Frente ao meu cavalete, posam palavras tuas. Com elas vou pintar-te o retrato.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Salve Poeta

 

Salve tu

que buscas

no horizonte azul

do mar

os olhos castanhos

da tua musa


Salve tu

que escreves

em obscuro

código de luz

o nome

da tua amada


Salve tu

que desafias

o leitor

a desencriptar

o mistério

das palavras


Salve, tu

poeta


domingo, 23 de agosto de 2020

Passeio de domingo (500)

 


No rasto das cigarras, das libelinhas e outros bichos.










Prima Odete e família

Depois de duas semanas sem praticamente passar por aqui e de escassa leitura de blogs, vou tentando atualizar-me. Num circuito meio errático pelo  blogobairro,  descubro as histórias da Prima Odete. Todas imperdíveis

Mia

 A Mia é muito linda, diz a mãe à pequena que segue à  sua frente no passadiço da praia e que, no seu palmo e meio de gente, responde repetidamente: a mais linda.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A irmã da Dona Fernanda

Enquanto aguardo a minha vez na fila para a caixa do supermercado, a mulher que se postou mesmo atrás de mim passa, de repente, para o meu lado direito e inclina a cabeça olhando-me fixamente durante intermináveis segundos. Já inquieta por tão demorada observação, com os mecanismos de defesa pessoal a colocarem-se instintivamente a postos para agir, respostas iminentes na ponta da língua, prontas a disparar face a qualquer ataque verbal do inimigo, ouço-a finalmente perguntar-me: é a irmã da Dona  Fernanda? De imediato me baixam os níveis de adrenalina e, com o meu mais amável sorriso, só visível nos cantos do olhos, desfaço-lhe o engano: não, não sou.


terça-feira, 4 de agosto de 2020

Embuço

Na clínica, aos acompanhantes está agora reservada, como sala de espera, a rua. O sol das nove da manhã já se mostra impiedoso e procuro por isso um poiso à sombra. O rebordo lajeado do muro que contém um projeto de jardim serve-me de assento e ali fico, solitária, fotografando com o telemóvel os pés calçados de sabrinas vermelhas, para entreter o tempo, até que se aproxima a acompanhante do doente que entrou entretanto. Mede a distância, sacode com a mão alguma poeira solta no poial e senta-se mais ou menos a metro e meio da minha saia. Mantém a máscara, visivelmente usada para além do recomendável, e dá início ao rol de lamentações associadas aos efeitos da pandemia. Os correios não funcionam, anda tudo atrasado, tanto que as faturas da luz e da água já chegam fora do prazo de pagamento. Vê-se obrigada a ir para as filas, longas e espaçadas, para a resolução presencial das dívidas. Suspira questionando-se sobre o fim deste mal que nos assola, sobre uma data para a respetiva vacina, sobre um tratamento definitivo cuja demora lastima. Eu já não tenho idade, prossegue, está visto que terei de viver o resto dos meus dias com o rosto embuçado.


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Nem a feijões


Um post perdido

Primeiro, perdeu-se de amores. De tal maneira que andava quase sempre com a cabeça na lua e um sorriso tolo nos lábios. Nas conversas, por distração, perdia quase sempre o fio à meada. Por outro lado, era pessoa que  perdia facilmente as estribeiras, o que só lhe fazia perder terreno face a rivais. Por isso, acabou por entender que não valia a pena  perder o seu latim naquela demanda e resolveu afastar-se até perder aquilo tudo de vista e não deitar a perder o que de bom ainda lhe restava na vida.

sábado, 1 de agosto de 2020

Fim de ano

Este foi um ano perdido, diz a mulher que almoça na mesa mais próxima da minha. A cinco meses do fim, 2020 parece não ter qualquer salvação.