Já
preciso de reabastecer a despensa. O frigorífica está quase vazio.
Da farmácia também já me davam jeito alguns produtos. Ontem pensei
tratar do caso hoje. Hoje resolvi que amanhã é que vai ser. À
força do hábito de não sair de casa, vou adiando a tarefa. Quando
começar o desconfinamento, a minha falta de prática vai estar a um
nível tal, que já nem saberei como andar por aí.
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sexta-feira, 24 de abril de 2020
quinta-feira, 23 de abril de 2020
quarta-feira, 22 de abril de 2020
terça-feira, 21 de abril de 2020
segunda-feira, 20 de abril de 2020
Escape
Assisto
ao treino diário dos pombos de algum vizinho da aldeia. Vejo-os da
minha varanda, a norte. Vão e vêm, numa voo mil vezes repetido. Num
determinado ponto, ficam ocultos pelos ramos mais altos das árvores,
mas logo surgem, do lado oposto, velozes, sobre as nuvens.
Entretenho-me a observá-los até que deixam de aparecer, regressados
ao pombal. A sul, na estrada, com rota demarcada, caminham os
confinados, em grupos não maiores de dois. Também os observo da
minha varanda, em breve escape às paredes de casa.
domingo, 19 de abril de 2020
sexta-feira, 17 de abril de 2020
Buzêlhão*
Neste
momento, ao passar a mão pelo queixo, já a sinto nitidamente.
Via-a esta manhã, quando me olhei ao espelho durante as primeiras
abluções do dia. Era só o que me faltava. Estou bonita, sim
senhor. Os olhos a afundarem, o queixo a descair, as rugas a
instalarem-e, aqui e ali uma penugem indesejada, o cabelo já sem
corte e agora uma borbulha horrenda que vai levar dias a
desaparecer. Vá que o confinamento foi prolongado, que os contactos
sociais são diminutos e que até já fiz uma máscara caseira para
quando tenho de sair às compras.
* inchaço,
tumor, buzilhão, besilhão
(Dicionário
do Falar Algarvio)
quinta-feira, 16 de abril de 2020
Um instante
De
forma inusitada, uma gaivota sobrevoou esta tarde a minha varanda.
Ainda corri a apanhar a máquina querendo registar o instante, mas
porque foi isso mesmo, apenas um instante, já não a voltei a ver, nem percebi para onde desviou, entretanto, a sua rota. Cansada de olhar
para o céu, onde apenas se expandiam as nuvens em claro cinza, olhei
para baixo e notei uma certa tristeza no olhar de um gato que
esperava, não sei bem o quê, no meio das flores do campo.
quarta-feira, 15 de abril de 2020
Bons fígados
À
falta de estarmos juntos a uma mesa, as videochamadas diárias para
conversar com a minha prole incluem sempre o tema incontornável da
comida. Centramo-nos na cozinha e no prato do dia de cada um, por
vezes acertamos na hora da refeição e acabamos por partilhá-la
virtualmente.
Blerk,
vocalizou a minha filha quando lhe disse que hoje tinha sido iscas.
Ca nojo, reforçou ela, que agora está virada de costas para a
carne, mais ainda para as vísceras. Já o meu filho lamentou-se por
não as comer – as iscas – há demasiado tempo. Pois, hoje fiz
iscas, como sempre vi a minha mãe fazer, cortadas em pedaços
pequenos, temperadas com sal, alho, salsa, pimentão, vinagre, vinho
e louro, cozinhadas em azeite e um pouco de água à medida que o
molho ia secando, para o manter no ponto. Nham, digo eu, contrariando
a minha filha. Estavam muito saborosas e para tempos de confinamento,
a comida que nos satisfaz também ajuda a manter os nossos bons
fígados.
terça-feira, 14 de abril de 2020
Lápis
Tenho
a mania - uma mania como outra qualquer – que um dia ainda consigo
desenhar alguma coisa de jeito. Ver desenhar é um gosto que tenho,
sigo ilustradores que mostram os seus trabalhos em redes sociais e
tudo me parece fácil. Mas não é. Dizem que é preciso treino. E se
calhar disciplina para o dito treino, que é coisa que eu não tenho.
Vou comprando cadernos, lápis, canetas, tintas, pincéis, mas sou
como uma criança mimada, que pega no brinquedo uma vez e logo se
cansa dele. Não resulta na maravilha que eu espero e logo arrumo o
material, até ao próximo impulso. Dizem que é preciso desenhar
todos os dias. Já pensei que podia aproveitar o tempo de deslocação
para o trabalho, que agora não gasto, para exercitar a mão e o
traço. Ontem até desencantei, na gaveta da secretária, um
conjunto de lápis por estrear. Estreei dois e parece-me que os
outros estão todos a pedir uso. Vou tentar fazer-lhes a vontade.
segunda-feira, 13 de abril de 2020
domingo, 12 de abril de 2020
Passeio de domingo (485)
Em cor-de-rosa, um não passeio de domingo composto de vários dias, de campo e de canteiro, para vos desejar Boa Páscoa.
sábado, 11 de abril de 2020
sexta-feira, 10 de abril de 2020
Pai do Céu*
Este
é o Cristo que resgatei há muitos anos - tantos que não lhes
tenho a conta - de um nicho que os pedreiros iam tapar na casa da
minha avó. É de madeira, esculpido certamente por algum
pinta-santo, designação dada a esses artesãos populares do
Algarve que, até à primeira metade do século XX, reproduziam
imagens do Menino Jesus e de Jesus crucificado. Salvei, pois, a
imagem de ficar sepultada numa parede velha e, também há muitos
anos, levei-a a restaurar porque tinha tinta indesejável na cruz.
Desde então, figura na pequena peanha que adorna uma parede do meu
quarto. Olho para ele e, apesar do sofrimento que representa, vejo um
rosto doce, um rosto de paz, quase um sorriso.
*
“O
século XIX foi a época do aparecimento dos pinta-santos ou
faz-santos algarvios. Estes procuram reproduzir as imagens
feitas pelos imaginários, sobretudo o Menino Jesus e o Jesus
crucificado, que, no Algarve, se chama Pai do Céu.”
Pe.
José da Cunha Duarte, Natal do Algarve – raízes medievais, Ed.
Colibri, 2002.
quinta-feira, 9 de abril de 2020
Folares
Era
a minha mãe quem os fazia. Juntos os ingredientes, sem que faltasse
a canela e a erva doce, amassava como quem amassa o pão e deixava a
massa a levedar em alguidar de barro embrulhado num pequeno
cobertor. Crescida a massa, moldava os folares, com ovo alguns,
outros simples. Preparava, entretanto, o forno de lenha onde os
colocava para cozer. Nunca cheguei a fazê-los com ela. Não aprendi
e nem sei tratar do forno que se mantém há tantos anos frio, lá
atrás no quintal. Perdi este saber, não acautelei a herança. Hoje
tive de me contentar com uma receita de folar, não de amassar, mas
de bater, que diligentemente segui. Não foi mau o resultado. Mesmo
cozido em forno elétrico, cumpriu a tradição da época e adoçou-me
o chá da tarde.
quarta-feira, 8 de abril de 2020
De novo, a primavera
ah as flores do
campo,
ah os dias mais
amenos (dependendo dos dias…),
ah as mil chuvas de
abril,
ah o tempo dos
caracóis e dos petiscos
(em casa como é bom
de ver…),
ah os dias maiores,
ah as andorinhas
volteando nos céus,
ah o canto das aves…
só o canto, não.
mudo então a
interjeição,
mudo também a
entoação.
ai os malvados
pássaros que de novo me sujam o pátio,
ai que lá tenho que
agarrar na vassoura e na mangueira
com redobrada
frequência,
ai que canseira
ai que já não
tenho paciência.
terça-feira, 7 de abril de 2020
Lua
A
notícia do jornal eletrónico falava da super lua que havia de
chegar ao perigeu algum tempo depois das seis da tarde. Desliguei,
pois, o teletrabalho e saí porta fora, máquina em punho, em busca
dela. Contrariaram o meu desejo as nuvens gordas que se amontoavam na
direção em que, naquela hora, a deveria ver. Com o intento
frustrado, rondei as cercas de casa, apontei aos passarinhos, a uma
pequena flor silvestre e ao botão de rosa que se erguia junto à
rede. Só agora, já ela vai alta, a consegui ver.
segunda-feira, 6 de abril de 2020
domingo, 5 de abril de 2020
sábado, 4 de abril de 2020
How insensitive
[Notei que, há algum tempo já, tinha guardado esta música em post rascunho. Passo-a a limpo, para post de um dia em que tenho as palavras em isolamento social]
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