terça-feira, 27 de novembro de 2018

domingo, 25 de novembro de 2018

Passeio de domingo (428)


O dia embrulhou-se de chuva e não esteve para passeios. Salvaram-se alguns minutos pelo meio de uma ida à horta.









sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Trajeto


Na manhã clara, rodo para leste em contraluz enquanto o sol puxa para si os vapores da terra. Quatro pássaros embebedam-se de orvalho saltitando nas ervas indomáveis da berma. Um bando deles dança no alto. À direita, vai-se despindo uma figueira. À esquerda, há uma árvore cor-de-rosa. No rádio do carro ouve-se um cravo em Variações Goldberg.

Na tarde que escurece, sigo para oeste enquanto o sol tempera de cores o horizonte. À direita, algumas nuvens grossas afofam o céu. À esquerda, as nuvens são de pássaros velozes, inquietos com a noite que chega. Na ponte aérea perfila-se a negro um ciclista. As luzes dos homens piscam pelos montes como estrelas. Mudo a estação de rádio e ouço a Tina Turner querendo cativar o seu typical male.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Branco, ou talvez não



Mark Rothko

Branco. Onde está branco, eu queria escrever cor de laranja. O amarelo é
mesmo amarelo. Mesmo que tenha escrito vermelho. Ou azul. A sépia.

Jorge de Sousa Braga

Cores


O homem das crocs azul-turquesa, que passou a usar all stars amarelos e depois diversificou o calçado, surpreendeu-me hoje com a vestimenta. Trazia calças cor de laranja e camisa mostarda.


domingo, 18 de novembro de 2018

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Arco-íris


Devia chover hoje, diz o mais pequeno dos três miúdos que caminham à minha frente, mochilas às costas, a caminho da escola.
Devia chover todos os dias, prossegue, para aparecer o arco-íris.

domingo, 11 de novembro de 2018

Passeio de domingo (426)


O passeio é de ontem à tarde, mas até calha a tarde de hoje estar praticamente igual à de ontem e por isso é provável que o resultado fosse similar. Andei pela praia da Rocha Baixinha.









sábado, 10 de novembro de 2018

Flirt


A janela da biblioteca de João Xavier abria quase de frente para a janela da sala de Maria Alice. Cada um, do seu lado da rua, podia observar o outro e o caso é que se observavam diariamente. Nos dias em que, por coincidência, abriam as janelas em simultâneo, cumprimentavam-se com um sorriso, por vezes um aceno de mão. João Xavier sentava-se junto à vidraça enquanto lia o jornal. Maria Alice, do lado de dentro da sua, folheava uma revista. Noutras vezes, eram livros que cada um trazia para junto das janelas. Nos dias quentes de verão, ficavam abertos os vidros e, não fosse o rumor dos pássaros nos ramos mais altos do plátano que se erguia à esquerda da porta de entrada da casa de João Xavier, quase poderiam ouvir o som das páginas a virar entre os seus dedos. Quando chegavam as chuvas, só as persianas se abriam. Ainda assim, através da cortina de pequenas gotas de água que deslizavam vidros abaixo, um e outro trocavam olhares de janela a janela. Se Maria Alice, retida noutros cómodos da casa passava um ou dois dias sem vir à janela da sala, já João Xavier se inquietava com a sua falta. E o mesmo sucedia com Maria Alice para quem a ausência de João Xavier fazia crescer em si uma desmesurada saudade. Porém, tanto quanto desejavam ver-se à janela, assim evitavam cruzar-se na rua. Gostavam daquela espécie de namoro silencioso e prudente que florescia de forma frondosa na sua imaginação, mas que sabiam condenado se ousassem regá-lo de realidade.

Galo(s)

Volta a este espaço uma fotografia já publicada, desta vez com intervenção da Afrodite, que resolveu dar cor às cristas dos galinhos de Barcelos, os mesmos que passearam por aqui no domingo passado.



O Galo

À meia noite
se ergue o francês
levanta-se de noite
mais de uma vez
sabe da hora
não sabe do mês
traz esporas
não é cavaleiro
toca alvorada
não é corneteiro
tem uma serra
não é carpinteiro
tem picão não é pedreiro
tem uma foice
não é ceifeiro
cava na terra
não acha dinheiro
passeia na praça
não é estudante
canta na missa
sem ser sacristão
sabe da hora
mas da morte não.


Recolhido em "Eu bem vi nascer o sol: antologia de poesia popular portuguesa", de Alice Vieira.


terça-feira, 6 de novembro de 2018

Correr riscos


Há quem diga que ler é perigoso e acho que estou finalmente a perceber porquê.

Foi-se o tempo em que lia um livro de cada vez. Não me parecia admissível interromper uma história para me embrenhar noutra e se acaso me arrastasse na leitura por qualquer quebra de interesse na narrativa, ainda assim, mantinha-me firme no consumo da obra como se de uma obrigação se tratasse. Abandoná-la seria quase sacrilégio, dedicar atenção a uma história concorrente, pior ainda; portanto continuava estoicamente até ao último ponto final.
Foi-se esse tempo há muito tempo e hoje surpreendo-me por conseguir não confundir cenários e enredos dos vários livros que enceto em simultâneo e que vou amontoando na mesa de cabeceira, escolhendo à vez aquele que me acompanha em cada serão. Pior, quando compro títulos novos, tomando por boa a mais que estafada metáfora de devorar livros, tenho sempre mais olhos que barriga e acrescento-os à pilha da mesa de cabeceira. Bem podia acomodá-los na estante para lá esperarem a sua vez, mas tenho cada vez mais relutância em fazê-lo. Anseio por estreá-los e preciso, de uma forma quase doentia, tê-los junto a mim, bem ao alcance da mão. Assim, e porque leio devagar, a tal pilha agiganta-se formando uma torre periclitante e sei que corro sérios riscos de a ver, numa destas noites, desabar sobre mim.

domingo, 4 de novembro de 2018

Passeio de domingo (425)


Este domingo foi de muita estrada, chuva e nenhum passeio. Antes que ele acabe, resgato os restos de um domingo que já lá vai, mas que, por mostrar pedaços de Lisboa, sempre se aproxima mais do que foi meu fim de semana.







sexta-feira, 2 de novembro de 2018