Enquanto
agarro na pega metálica para manter o equilíbrio e penso que será
conveniente não passar a mão pelo rosto sem antes a lavar, observo
a mão da rapariga que vai sentada no banco que me proporciona a tal
pega. A mão da moça, dizia eu, acaricia a nuca e os cabelos do
rapaz que se senta a seu lado. O gesto parece-me condizer com o olhar
amoroso que o acompanha. O rapaz, com elevado grau de probabilidade,
deve gostar de sentir aqueles dedos que lhe esfregam delicadamente o
couro cabeludo. O rosto da rapariga também atrai o meu olhar e
provoca-me uma certa estranheza. Os dedos continuam a sua dança
lenta entre as mechas de cabelo do moço. O ato prolonga-se por
várias estações sem interrupção e a jovem fecha os olhos
dormitando já, embalada também pelo movimento do metro. Faz-me
lembrar do hábito que tinha um sobrinho meu, quando pequeno. Para
adormecer mexia demoradamente nos cabelos da mãe. Não usava
chucha, não enrolava a ponta de uma fralda, não segurava em
qualquer boneco de peluche. Os cabelos da mãe eram a sua cantiga de ninar. Volto a olhar para o rosto estranho da passageira do
banco a que me agarro, e noto agora que é tal qual uma cara de
bebé.
É no limiar do adormecer que nos chegam, mais fortes, os laivos de saudade, ecos da meninice perdida!
ResponderEliminarGostei muito do texto, Luísa, muito!
Beijinho. :)
Obrigada, Janita, por essa leitura de uma saudade que me pareceu boa. :)
EliminarBeijinho :)
O ninar do meu filhote era o acarinhar a minha orelha 😉... Bj e gosto do texto!
ResponderEliminarCada bebé com as suas "manias". :)
EliminarObrigada Gracinha!
As coisas que fazemos inadvertidos. Bonita descrição de um momento que talvez só a Luísa tenha observado na sua essência.Ou é sentido apenas seu e outros terão visto na mesma coisa uma coisa outra:)
ResponderEliminarBom Dia.
Há sempre diferentes modos de ver a mesma coisa, bea. Cada um com os seus filtros pessoais. :)
EliminarObrigada.
Extremamente ternurento este post!
ResponderEliminarA mim, tocou-me particularmente. Desde que me conheço por gente que tenho o vicio de enrolar o cabelo. Não puxo, não arranco mas enrolo.
O meu estado de espirito é perfeitamente detectável de acordo com a maneira como estou a enrolar o cabelo.
E nem me apercebo: pode ser no trabalho, no supermercado, na praia, a conduzir.
Já me aconteceram situações cómicas e ternas graças a esse "vicio"!
Embora me julgue muito séria, se calhar afinal tenho um lado de criança.
Muito obrigada Luísa por me fazer pensar nisso. Sempre achei que ter este vicio não seria algo muito bom.
Um abraço do Algarve,
Sandra Martins
Todos temos manias ou tiques, Sandra. Lembro-me de uma colega que tive, no meu primeiro trabalho, ainda era eu universitária, que se entretinha enrolando pedacinhos de papel entre os dedos polegar e indicador. :)
EliminarUm texto muito ternurento.
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana
Obrigada Elvira!
EliminarUm abraço de volta. :)
Retomando as rotinas depois de uma semana em correria em Portugal.
ResponderEliminarBoa semana
E eu respondendo com atraso aos comentários que aqui me deixaram.
EliminarObrigada por passar por cá, Pedro!
Ninar numa carruagem do metro, enquanto acaricia os cabelos do companheiro... Poderá parecer estranha, mas acho que é uma imagem simpática.
ResponderEliminar(Então ontem não houve passeio de domingo? Estranhei a falta, Luísa)
Uma boa semana :)
O metro tem sempre personagens estranhas, AC.:)
EliminarE eu falhei o passeio de domingo, de facto. Não por falta de passeio real que fiz, tanto no sábado como no domingo e em companhia de familiares em visita. Não deu foi para editá-lo aqui.
Obrigada