quarta-feira, 28 de junho de 2017

Habitar uma pausa



























Desejaria habitar uma pausa da folhagem
em que estar seria adormecer o ardor intenso
espalhando-o na brisa com a leveza da paz.
Estar, estar deslumbrado, difundido,
estremecendo na igualdade pura do corpo ao espaço,
fluindo no serpenteamento dos leves labirintos,
ampliando no nimbo a intensa influência
da remota matéria no enigma da presença.
Reina o silêncio numa surpresa imóvel
e cresce na sombra uma serena cascata
em que já não há diferença entre o sonho da vida
e o corpo feliz da inteligência.

António Ramos Rosa

Facilidade do Ar, Ed. Caminho, 1990.

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